quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O Peso (dos anos e da culpa)

Bem, há dois dias que não consigo levantar-me cedo. Isto acontece muito provavelmente pelo cansaço acumulado neste fim-de-semana grande em que também festejei os meus anos.

Festejei como pude e como consegui. Estarmos rodeados das pessoas de quem gostamos e que nos fazem sentir bem ajuda, seja na hora de festejar ou na de desanimar. A celebração dos meus 25 anos foi um pouco destas duas coisas. É impossível deixar de sentir culpa por estar a festejar, a sorrir e a divertir-se quando não temos grandes perspectivas de futuro. E ao contrário do que muitos pensam ou pelo menos escrevem por aí, um desempregado com a minha idade não culpa unicamente o estado das coisas, ou o governo ou a sociedade que não nos garante emprego. Isso é um discurso demagógico que pretende passar uma imagem de irresponsabilidade e imaturidade para a minha geração. À rasca ou não, eu sinto-me culpado por estar aqui. Por várias razões. Por ter deixado escapar oportunidades que hoje poderiam revelar-se mais frutíferas.Por não ter sido o melhor aluno da minha turma. Por não ter tentado fazer mais contactos com uma futura "cunha" em vista. Por não ter entrado noutra faculdade, noutro curso, por não ter escolhido outro agrupamento no secundário. Acreditem, sinto que a minha vida chegou a este ponto única e exclusivamente por minha responsabilidade, e pela minha falta de agilidade no que toca a tomar decisões sábias ou, pelo menos, sensatas.

Por isso foi complicado festejar um aniversário. A constatação de que os anos avançam enquanto a minha vida profissional mais do que estagna, regride.

Mas festejei, e que o próximo ano seja melhor.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A formação

Sou Licenciado em Comunicação Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa.

Pela altura em que preenchi o meu formulário de candidatura já se ouviam as histórias do desemprego e fraca "saída", como se diz" que esta área do trabalho tinha. Ignorei. Naquela altura por muito que nos digam isso é difícil acreditar que o inferno está naquele folheto simpático que apresenta as disciplinas simpáticas acompanhadas por imagens de um edifício moderno e de jovens universitários com ar decidido e feliz. É ainda mais difícil acreditar que não há futuro quando gostamos da área de estudo e quando somos considerados bons alunos. Mais tarde começamos a perceber a relatividade deste conceito e a insignificância de uma média de 17 ou 18 no Secundário. Sentia-me bem por entrar no curso que no ano anterior tinha a segunda maior média, é aquele regozijo um bocado presunçoso, principalmente quando te tens como uma pessoa humilde.

Ao contrário de colegas meus que passaram a licenciatura a praguejar contra a constituição do curso eu não me sinto arrependido ou especialmente descontente com a formação que tive. Acho que haviam falhas graves e não me senti especialmente preparado para ser um jornalista ou um profissional da comunicação ou um operador de telemarketing, mas tentava ver sempre o lado bom das coisas e no fundo aprendi coisas bastante interessantes e conheci pessoas simpáticas e inteligentes com quem pude manter conversas em que quase nunca foi referido o estado do tempo.

Na altura em que terminei a licenciatura viviam-se tempos conturbados no ensino superior, processava-se uma revolução bolonhesa. Bolonha era o futuro, a alteração do paradigma e todas as instituições saltaram para este barco da mesma forma que um jornal regional cria um site na internet para depois colocar digitalizações da edição em papel. Uma confusão.

No fim fiquei com uma licenciatura de 4 anos, seja lá o que isso for hoje em dia, e com a possibilidade de ter um Mestrado (dos novos, não dos antigos) se entregar uma tese. Fiz a primeira parte deste processo (2 cadeiras) e a Tese é uma história que fica para outro capítulo.

Quando olho para as minhas habilitações literárias, principalmente quando as observas no PDF do meu Currículo, acho que são insignificantes, comparadas com aquilo que poderá ser considerado impressionante pelo mercado e também em relação a tudo o que passei enquanto as obtive. Ou seja eu não sou aquilo que vejo ali escrito e ando a tentar encontrar uma maneira de mostrar o que sou de outra forma. Acho que continuo a falhar redondamente nisso mas ultimamente tenho tentado uma nova abordagem.

Continuo assim um belo cliché - Um licenciado desempregado. A minha vida é uma linha de montagem onde recebo estes incríveis carimbos até que seja apenas mais um produto carimbado como os restantes. Mas sempre que olhar para uma estatística posso dizer - Olha ali eu na Televisão!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Mais Um

Não, o facto de estar na mesma posição que uma percentagem significante da população do meu país não serve de consolo. É incomodativo, é triste, asfixiante e frustrante. Mas lá no fundo há sempre alguma esperança, tem de haver, por muito que seja dotado de uma alma fatalista.

É quase poético. Precisamente uma semana após o Primeiro Ministro Pedro Passos Coelho ter apresentado as propostas do mais assustador Orçamento de Estado desde que nasci (e segundo alguns, desde que há democracia ou até antes), eu perdi o meu emprego. Aliás, perdi o emprego no início do mês, o dia 20 de Outubro foi a oficialização da coisa. O dia da limpeza de secretária.

Trabalhava numa empresa e Comunicação e Eventos. No papel, o meu cargo era de Gestor de Conteúdos, mas fiz muito mais que isso, a empresa era pequena e não haviam assim tantos conteúdos para gerir. Trabalhei muito nos eventos, na sua preparação, propostas e na própria execução. Escrevi textos para sites e perfis de redes sociais e apesar de não ganhar muito chegava-me perfeitamente para os gastos, algo que muita gente não pode dizer. Muitos dirão que esta é uma perspectiva miserabilista e espelho de falta de ambição, menos um ponto no meu perfil profissional, sou um preguiçoso no fundo. Calma. Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Sempre procurei melhorar e estive atento às ofertas profissionais, que não abundam e que na maioria dos casos não eram melhores do que aquilo que eu desfrutava. E digo desfrutar porque baseio a minha análise no eixo imaginário que atravessa a remuneração, realização profissional,bem estar e ambiente de trabalho. É complicado ter isto tudo, eu sei, mas nos dias de hoje é fácil sentir-mo-nos infelizes e por isso convém ter em atenção todas estas coisas, pelo menos é o que eu acho, ou achava.

Voltando ao meu velho emprego. A empresa era pequena, o ambiente de trabalho era muito bom e ia a pé para o escritório. Fiz lá um estágio profissional e neste momento terminava no meu segundo contrato a termo de 6 meses. Os motivos da minha dispensa são claros e eu já os descortinava há algum tempo. A empresa estava com dificuldades de tesouraria. Não culpo ninguém, simplesmente era impossível manterem-me na empresa. Desejo toda a sorte do mundo às pessoas que lá deixei porque sei que vão ter dificuldades, a nível do trabalho, com a minha dispensa, mas também e principalmente ao nível da sobrevivência da própria empresa.

Infelizmente, esta história terá pouco de original, bem como a temática deste blogue. Que seja mais uma insignificância que tenta dar algum sentido a isto tudo.